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Eliezer Ranieri, 32, no santuário de Qom, no Irã, com a mulher, Latifa Torres, e a filha de um ano, Amirah ( Samy Adghirni/Folhapress ) |
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A QOM
Convertido ao islã, o paulista Eliezer Ranieri, 32, decidiu se instalar com a família no santuário xiita de Qom, no interior do Irã, para garantir que sua filha de um ano e cinco meses tenha uma educação muçulmana.
Estudante de teologia com bolsa iraniana, Eliezer rejeita a liberdade sexual no Brasil e considera que a brasileira tornou-se uma "mulher objeto". Ele diz que a nova vida no Irã é "maravilhosa".
Nasci em Ubatuba, em São Paulo, e me criei no Guarujá, filho de pai comerciante e mãe professora.
Meus irmãos e eu tivemos uma infância muito tranquila, brincando de
esconde-esconde, mão na mula, queimada e outras brincadeiras tão boas e
inocentes, apesar dos programas violentos, como "Jaspion" e "Changeman",
que começaram a surgir no fim dos anos 80.
Meus pais não eram religiosos, e eu, como eles, acreditava em Deus sem
ter religião. Mas, em fevereiro de 2001, me converti ao islã sunita na
mesquita de Santos, com o apoio de uma família libanesa que me mostrou o
Corão e me ensinou o alfabeto árabe.
Fui tocando minha vida, primeiro me formando em tecnologia ambiental e depois trabalhando na estação de tratamento de água da Riviera de São Lourenço.
Em 2009 passei a trabalhar na feira do Brás, em São Paulo. Em seguida,
me casei com a Latifa, que conheci na mesquita. Nossa filhinha, Amirah,
nasceu há um ano e cinco meses. É a nossa princesa, que é exatamente o
significado do nome dela.
O problema do islã no Brasil é a influência wahabita [corrente sunita
ultrarradical surgida na Arábia Saudita que inspirou a Al Qaeda de Osama
bin Laden].
Os wahabitas propagam uma visão incorreta do islã, com ideias extremistas e opressão contra outras opções religiosas.
Tanto que, quando comecei a me interessar pelo islã xiita, muitos
sunitas reagiram com hostilidade, chamando os xiitas de incrédulos. Essa
experiência acabou me empurrando ainda mais para o xiismo.
Sete meses atrás, me tornei muçulmano xiita.
Logo em seguida, Deus pôs no nosso caminho a possibilidade de morar no
Irã. Já vínhamos há algum tempo querendo sair do Brasil para educar
nossa filha, inclusive fizemos planos de morar no Marrocos.
Até que surgiu a chance de eu iniciar estudos religiosos na universidade internacional de Qom, com uma pequena bolsa.
Era a chance ideal para criar nossa neném num ambiente islâmico adequado.
Minha mãe, que se tornou evangélica há alguns anos, chorou ao saber da
mudança, pois Amirah é sua primeira netinha. Mas ela entendeu que
estávamos migrando no caminho de Deus e acabou aceitando.
Ela e meu pai pesquisaram muito sobre o Irã e perceberam que o país é
muito mais do que a questão nuclear ou a tensão com Israel.
Chegamos a Qom há dois meses. Estranhei um pouco o trânsito totalmente sem regras, mas nosso dia a dia aqui é maravilhoso.
INOCÊNCIA IRANIANA
O que mais prezo é a inocência da população, que não tem a maldade dos
brasileiros. Quando ando até o ponto de ônibus, por exemplo, é muito
comum algum desconhecido parar o carro e oferecer carona, algo
impensável no Brasil.
Aqui a gente anda na rua sem medo de ter o relógio ou o dinheiro roubado.
O custo da vida é muito baixo. Minha bolsa mensal equivale a cerca de R$ 100, mas aqui tudo é tão barato.

Para nossa filha é ótimo estarmos aqui.
No Brasil os valores morais estão invertidos. A criança na escola não respeita o professor, e a violência está em todo lugar.
Além disso, você ensina o certo, mas seu filho sai na rua e vê homem com
homem, mulher com mulher, tudo permitido em nome da democracia e da
liberdade.
No Brasil, a pessoa vai para uma balada, fica com alguém, acaba no motel
e na semana seguinte faz a mesma coisa com outro parceiro.
O sexo antes do casamento cai na banalidade e prejudica a sociedade.
Por mais que as feministas digam que não, a mulher brasileira é, sim, um objeto. Poder andar na rua pelada é uma liberdade falsa. A brasileira sabe que, se ela não tiver um certo padrão de beleza, se sentirá inferior. Ela sabe que, se não mostrar o que tem, não conseguirá certas coisas. Por que ela usa decote? Para mostrar que tem peito grande. Para se exibir como um troféu a ser conquistado por quem conseguir. |
Não é isso que queremos para nossa filha.
Desde pequena, a chamamos para ficar pertinho na oração. Hoje ela já
sabe quando é hora de fazer "Alá Akbar" [Deus é maior, frase pronunciada
nas orações]. Ela se ajoelha e põe as mãozinhas na cabeça.
Mas ela não vai deixar de ser brasileira, e o português será sua língua principal.
Além disso, nosso plano é voltar a morar no Brasil dentro de uns dez
anos, quando eu estiver formado e apto a mostrar o islã verdadeiro aos
brasileiros.
Até lá, pretendo levá-la de vez em quando ao Brasil para ver a família.
Ela talvez estranhe o ambiente quando estiver com a família brasileira,
mas ela verá qual o valor da mulher no nosso país, e espero que um dia
nos agradeça pela nossa escolha.
Meu sonho é que ela construa uma família muçulmana. Mas também quero que
ela passe por uma faculdade. O Corão incentiva muito os estudos.
Por mais que eu mostre o caminho certo e queira que ela tenha Deus no
seu coraçãozinho, ela é quem vai decidir seu futuro. Amirah terá total
liberdade para seguir seu caminho.
A gente faz a nossa parte, mas o futuro só Deus sabe.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1254931-brasileiro-convertido-ao-isla-acha-vida-no-ira-maravilhosa.shtml
Acesso:31/03/13
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