Infelizmente, esta é uma história real sem final feliz, que retrata o
sofrimento de uma mulher grávida, apoiada pelo marido, diante da
constatação de que o feto que carrega no ventre é anencéfalo, ou seja,
tem graves deficiências na formação cerebral (não só no encéfalo, como o
nome sugere), que já lhe traçam de antemão o destino na vida
extra-uterina: a morte.
Rosivaldo e Severina, os pais da criança
desenganada, são pessoas humildes do sertão de Pernambuco, e Severina,
apoiada pelo marido, não queria levar a gestação até o fim, pelo que
tratou de pleitear o aborto, quando se viu envolvida numa disputa
judicial e religiosa que quer impedir pessoas nessas condições de
praticar o triste fim, como se a decisão de abortar nessas condições não
fosse por si só já penosa demais de se suportar. Aí o casal se perde
nos meandros do descaso e da lentidão do Judiciário e da saúde pública
do Brasil, de maneira que o aborto não é consumado, e a criança nasce e
cumpre o seu lamentável destino: a morte.
Talvez o momento mais
emblematicamente triste do documentário abaixo, "Uma História Severina",
ocorre quando a mãe vai a uma loja comprar UMA única roupinha para o
bebê, e a vendedora, na esperança - talvez - de vender um enxoval
inteiro, fica estupefata com a resposta que recebe, a de que a criança
ia nascer para morrer.
A roupa era para vesti-lo no caixãozinho branco
dele. Fica a terrível dúvida ética, portanto: até que ponto é legítimo
que o Estado, para atender as convicções religiosas de parcela
importante de sua população, possa obrigar uma mulher a levar adiante
uma gravidez condenada à fatalidade e à dor irreparável?
Até que ponto é
justo obrigar gente humilde a essa jornada de dor a fim de que outros
durmam em paz nos seus lares confortáveis com a consciência tranquila do
dever religioso cumprido? Registrando que a "dor" aqui referida é -
também e talvez principalmente - literal, já que os anestesistas do SUS
se negaram a aliviar a dor física de Severina, como se já não lhe
bastasse a dor que - de qualquer maneira - levará na alma pelo resto da
vida...
Isso não é um filme de hollywood, mas uma realidade na vida de muitos casais. Prepare lenços pra secar as lágrimas
Fonte: http://ocontornodasombra.blogspot.com.br/2012/01/aborto-e-vida-severina.html
Acesso 08/05/12
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