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“Quem assume cargo de prefeito não pode governar para religião"

Queridinho do vice-presidente Michel Temer, o deputado Gabriel Chalita é a esperança do PMDB de conquistar a prefeitura de São Paulo. Aos 42 anos, Chalita é professor universitário, já foi secretário paulista de Educação e publicou 63 livros. 

Embora seja católico devoto, Chalita garante que contemplará o eleitorado não identificado com religião. “Quem assume um cargo da importância do cargo do prefeito de São Paulo não pode governar para uma ou para outra religião, tem que governar para o povo todo”, disse à jornalista Teresa Perosa.

ENTREVISTA COM O CANDIDATO: Gabriel Chalita (PMDB)



 O senhor continua sendo assediado para que desista da candidatura em favor de Fernando Haddad, do PT.  Um ministério  lhe foi oferecido. Ainda existe alguma possibilidade de o senhor deixar o páreo? Minha candidatura não pertence a mim apenas. Pertence ao PMDB e a São Paulo. Realizamos uma grande quantidade de filiações na capital de pré-candidatos a vereador. 

Estamos fazendo reuniões nos diretórios do PMDB desde dezembro. Para nós, essa discussão de desistência  é coisa do passado. Ninguém nem do PMDB nacional ou municipal imagina que haja qualquer possibilidade de abrir mão da candidatura.

A primeira pesquisa de intenção de votos coloca a maioria dos pré-candidatos com números iguais, ao redor dos 6%. Como o senhor avalia suas chances de vencer as eleições? Eu sou bem conhecido por 10 % da população, segundo o Datafolha, e tenho 6% de intenções de voto. Isso é fantástico. Mostra que as pessoas que me conhecem acham que eu tenho condições de ser um bom prefeito para São Paulo. Tenho uma rejeição muito baixa. 

O grande desafio é ir crescendo aos poucos, quando começa mesmo a campanha eleitoral. Temos um bom projeto, temos um partido grande e tenho experiência como gestor. Então, as chances são muito grandes.

Sua principal bandeira política é a educação. Quais são suas propostas? Eu chamo atenção para três projetos básicos. O primeiro é uma ampla revitalização do centro de São Paulo, que vai desde o Brás até a Barra Funda, copiando um pouco do que o mundo fez com as suas capitais. O segundo é a construção de uma cidade virtual. São Paulo tem na área privada uma gestão muito eficiente, mas na área pública isso está engatinhando ainda. 

Temos que construir uma cidade virtual, tecnológica, na qual a população possa reclamar dos problemas por torpedo, agilizar processos de alvará, numa ação conjunta para que as empresas tenham uma facilidade maior de ocupação aqui. Um terceiro ponto seria o cuidado com as áreas sociais. São Paulo tem uma saúde caótica, ela vai muito mal e a parte da informatização vale para essa área também. 

Quanto à educação, você não pode ser a cidade mais rica da América Latina com 160 mil crianças em fila de espera para creche. É claro que entrarão outras coisas, como a mobilidade urbana, que é um grande problema para cidade. Não é só uma questão de trânsito e transporte, mas também de desenho da cidade. 

O plano-diretor deveria atuar intensamente nisso. Quanto menos as pessoas tiverem que se deslocar, melhor qualidade de vida elas terão. A área da educação vai entrar, mas não será a única bandeira.

Como você avalia a gestão do prefeito Gilberto Kassab? Eu acho que o povo vem avaliando mal. Ele começou bem, no seu primeiro mandato, imaginávamos que seria um prefeito cuidadoso com a cidade. Num primeiro momento, toda cidade se uniu no “Cidade Limpa”. Houve uma mobilização popular para ajudar a cidade a ser mais bem cuidada. Depois, Kassab mudou os objetivos e acabou abandonando um pouco a cidade. A prefeitura está sem projeto.

Como a prefeitura pode atuar em termos de segurança? A violência se propagada no caos. Não é só um problema de responsabilidade do Estado. A organização da cidade cabe ao município. Iluminação por exemplo é um problema seríssimo em São Paulo. 

Numa cidade bem iluminada, com poucos terrenos baldios e espaços de desocupação, há tendência de ela ser mais segura. No caso específico da Cracolândia, por exemplo, eu acho que o equívoco é a inexistência real de leitos para internação de viciados. 

A prefeitura poderia estabelecer convênios com comunidades terapêuticas. Em Minas Gerais, a Aliança Pró Vida, por exemplo, é um projeto em que você dá para mãe um cartão para que ela busque um local de internação para seu filho viciado em crack. Espalhar viciado não resolve.

Precisa ter uma medida policial para coibir a ação do traficante com certeza, mas também de recuperação dessas pessoas, e isso não vem acontecendo. Nem com moradores de rua. São Paulo é uma cidade com 11,5 milhões de habitantes e tem 12 mil moradores de rua, o que não é um número tão elevado. Mas existem poucas alternativas de inclusão social desse morador. É o abandono da cidade que se reverte em vários aspectos.

Sua imagem está bastante associada ao catolicismo. Como pretende ganhar o eleitorado que não se identifica com a Igreja Católica? Nunca fui um católico fundamentalista. Sou católico praticante, mas nunca fui sectário, nunca tive preconceito com nenhuma religião. 

Quando fui secretário da educação, mantive um amplo diálogo com outras religiões para construir um projeto de ensino religioso que priorizasse valores. Então todas as religiões se sentiram contempladas. Eu tenho um diálogo muito tranquilo com as outras religiões. 

Não misturo as coisas. Tenho absoluta consciência que o Estado é laico, a Constituição determina isso, e alguém que assume um cargo da importância do cargo de prefeito de São Paulo, não pode governar para uma ou para outra religião, tem que governar para o povo todo.

Teresa Perosa (foto: Alex Silva/AE)

Leia também: O encantador de poderosos, perfil de Chalita publicado nesta semana em ÉPOCA


 Fonte: época online 14/01/12
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