Depois de 20 anos de proibição, pesquisadores estrangeiros voltam ao Iraque para buscar indícios das primeiras cidades erguidas pelo homem
Hélio Gomes
Escombros de cidades com milhares de anos à margem do rio Eufrates Patrimônio |
Logo depois da primeira Guerra do Golfo, no início dos anos 90, um dos maiores patrimônios históricos da humanidade mergulhou em duas décadas de escuridão. O acesso de arqueólogos estrangeiros a sítios que guardam segredos da Mesopotâmia e do Império Persa, localizados às margens dos rios Tigre e Eufrates, no Iraque, foi terminantemente proibido pelo regime de Saddam Hussein. Há poucas semanas, um grupo formado por três pesquisadoras americanas encarou os riscos de viajar ao território ocupado para retomar a busca por indícios das primeiras cidades erguidas pelo homem.
“A única forma que encontramos para entrar no país foi com a ajuda de uma companhia de turismo britânica”, diz Carrie Hritz, antropóloga e professora da universidade Penn State (EUA). Ela liderou o grupo americano, que ainda contou com o auxílio de pesquisadores da Universidade de Basra e de seguranças privados locais durante os cinco dias de expedição. “Os arqueólogos iraquianos continuaram o trabalho nos últimos anos, mas suas pesquisas não foram documentadas”, afirma Carrie.
Paradoxalmente, Saddam Hussein foi o maior responsável pela descoberta dos sítios arqueológicos. Nos anos 80, o tirano mandou drenar as margens do Tigre e do Eufrates para limitar o acesso dos membros da etnia shia às suas águas. Para surpresa geral, escombros emergiram para contar parte da história das primeiras cidades erguidas pelo homem. “Os dados que coletamos ajudam a entender como as concentrações humanas eram organizadas cinco milênios antes de Cristo”, conta Carrie. A pesquisa completa deve ser publicada pelo grupo nos próximos meses.
Além de investigar o passado, a expedição americana tinha o nobre objetivo de recolocar a comunidade acadêmica iraquiana no mapa mundial. Durante as primeiras semanas da invasão americana no Iraque, em 2003, a Universidade de Basra foi invadida e seus laboratórios foram saqueados. Agora, os pesquisadores americanos prometem incluir seus colegas iraquianos nos créditos do novo estudo. “Também conseguimos viabilizar o acesso deles a um banco de dados global, que reúne milhares de trabalhos científicos publicados por universidades de todo o mundo”, afirma Carrie. Um exemplo a ser seguido.
Fonte: www.istoe.com.br/reportagens/131108_ARQUEOLOGIA+DE+GUERRA
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