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Capacitando a família


Isabelle Ludovico

A família é o principal contexto de aprendizagem, pois é nela que os valores e modelos são assimilados desde a mais tenra infância. É um sistema interacional, provido de uma estrutura hierarquicamente organizada, com o fim de assegurar a continuidade e o crescimento de seus membros. Assim, como um móbile, a família precisa encontrar o equilíbrio dinâmico entre duas funções aparentemente contraditórias: homeostase e transformação. Uma visa manter a família unida, enquanto a outra promove a sua evolução. A cada fase do ciclo familiar, o equilíbrio anterior é rompido para dar lugar ao novo. A crise permite uma reorganização mais adequada. Instabilidade, incertezas e ansiedade marcam a passagem para um novo equilíbrio funcional. Fatores perturbadores como perdas, abandono, separação, desemprego são a base para o desenvolvimento dos mitos, que vão dar significado à situação vivida, em função das referências provenientes das gerações anteriores.

Para se desenvolver de forma saudável, a pessoa precisa de cuidados especiais. A função materna, assumida pela mãe biológica ou por uma figura substituta, inclusive o pai, se inicia com a construção de um vínculo afetivo que permite à pessoa se sentir acolhida e parte integrante da família. Maternidade diz respeito também à capacidade de nutrição física e emocional, bem como à organização das necessidades básicas. A função paterna, por sua vez, garante limite, proteção e direção. O casal ainda transmite à criança padrões de relacionamento quanto à sexualidade, afetividade e companheirismo. Por meio dessa herança, o ser humano vai construindo sua identidade e aprende a se relacionar. As falhas e ambigüidades no desempenho das funções materna, paterna e de casal geram carências que precisam ser supridas.

As relações se desenvolvem dentro de regras que determinam a maneira de agir de seus membros e o papel de cada um. A família se adapta às mudanças internas e externas, de acordo com os padrões de interação desenvolvidos até então. Se estes modelos de relacionamentos forem inadequados para lidar com o desafio presente, a família entra em crise facilmente identificada por um sintoma condensado num de seus membros. O sintoma tem a dupla função de denunciar o problema e manter a situação.

Trata-se de um distúrbio mental ou comportamental que precisa ser compreendido como o resultado de uma disfunção da família como um todo. O grande equívoco da família é focalizar o sintoma como sendo a causa de seu mal-estar, em vez de perceber que é apenas a conseqüência de uma crise do sistema familiar. Tentar eliminar o sintoma sem enxergar suas raízes não resolve o impasse, apenas contribui para estigmatizar o membro afetado mais diretamente, que se torna a lata de lixo ou o bode expiatório da família. A terapia familiar sistêmica o chama de “paciente identificado”, pois ele se torna porta-voz e depositário da patologia da família. Quando os problemas não são verbalizados e encarados, a família tende a parar de crescer. Ela não percebe que esta crise é justamente a oportunidade de aprimorar as relações entre os seus membros e promover o crescimento de cada um deles.

Além das crises decorrentes do ciclo evolutivo, os papéis tradicionais de homem e mulher estão sendo questionados com grandes repercussões para o exercício da paternidade e da maternidade. Sustentar a casa já não é exclusividade do homem nem educar os filhos, da mulher. Ambos estão compartilhando essas responsabilidades como um novo desafio, no qual os pontos de atrito são multiplicados até encontrarem um equilíbrio específico e válido apenas para o momento presente. Se as mulheres conquistaram novos espaços, os homens muitas vezes se sentem acuados e fragilizados. Eles então se isolam e se omitem, deixando o espaço vazio para a mulher assumir. Em conseqüência disso, as estatísticas apontam um aumento de famílias matrifocais, do alcoolismo e do homossexualismo. A perda de autoridade do homem tende a gerar um aumento do autoritarismo e da violência física.

Comunicação clara, fronteiras nítidas e flexíveis, hierarquia correta, união e diferenciação são algumas condições para a construção de famílias saudáveis. A terapia familiar sistêmica visa mobilizar os recursos da família para enfrentar as crises e prevenir outros conflitos, à medida que produz mudanças significativas no sistema, contribuindo para aprimorar as relações entre os membros e no interior dos vários subsistemas. Assim, a abordagem familiar propicia uma melhora na qualidade de vida em família, fortalecendo os vínculos e ampliando as estratégias para a resolução dos conflitos.

 Fonte: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/273/capacitando-a-familia
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