Voluntária no Oriente Médio há 17 anos, Raquel Elana passou seis meses no maior campo de refugiados da Jordânia
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Raquel Elana, ao centro, com refugiados sírios na periferia de Mafre
Arquivo pessoal
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RIO — Aos 40 anos, a brasileira Raquel Elana passou quase metade da vida
como voluntária no Oriente Médio. Já são 17 anos como missionária da
Igreja Batista, os últimos seis meses na Jordânia, ajudando refugiados
que deixaram a Síria, país vizinho mergulhado numa guerra civil que já
deixou 100 mil mortos nos últimos dois anos e meio. Antes, esteve em
lugares como Líbano e territórios palestinos, onde conviveu com mulheres
que sofriam por causa da opressão masculina.
Raquel, que também é professora e tem diversos livros sobre as missões
publicados - o próximo será pela editora Multifoco - trabalhou na
Jordânia, na periferia de al-Mafraq, ajudando refugiados que deixaram o
campo de Zaatari, o maior do país, com 120 mil pessoas. A ONU calcula
que pouco mais de 30% dos dois milhões de sírios que deixaram o país
vivem nos campos. A grande maioria foge da polícia e acaba encontrando
uma vida difícil nas cidades.
- Dentro do campo há várias organizações não governamentais, mas, mesmo
com a ajuda, muitos saem de lá porque vivem sem ter o que comer ou o que
vestir. Eu atendia cerca de cem famílias por mês, fornecendo cestas
básicas, remédios e conforto espiritual - afirma.
Na Jordânia, país predominantemente muçulmano, Raquel tem que lidar
ainda com o conflito religioso. Lá, ela é voluntária, e não missionária
da
Junta Administrativa de Missões
(Jami). A professora conta que já chegou a ser interrogada por
policiais por ser cristã. E lembra a destruição de Maaloula, vila de
cristãos ortodoxos, praticamente destruída pela guerra civil.
- Usamos a palavra “voluntário”. Missionário lá tem outro teor,
diferente do daqui. Eles pensam que nosso objetivo é a conversão, o que
não é verdade - explica ela, que já atendeu até os rebeldes do Exército
Livre da Síria.
Com a iminência de uma intervenção militar americana - nos últimos dias
mais distante devido ao acordo russo-americano - o grupo de religiosos
que trabalha com os refugiados está menor. Os que ficaram, de outras
missões, têm trabalho dobrado, numa situação cada vez mais caótica. E
embora a maioria dos jordanianos não acredite que o país vá se envolver
em uma possível guerra, muitos temem que a economia afunde ainda mais e
que o número de refugiados aumente.
- A população toda aprendeu a viver com medo, mas ninguém quer a guerra.
Nem os jordanianos nem os refugiados, que, em sua maioria, não apoiam o
Bashar (al-Assad, o presidente sírio), mas também não querem ajuda dos
rebeldes. Eles estão depressivos. O povo chora muito pela destruição da
Síria. Estão revoltados com os dois lados - afirma a missionária, que
tem planos de voltar no ano que vem para continuar o trabalho.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/mundo/a-populacao-siria-aprendeu-viver-com-medo-mas-ninguem-quer-guerra-conta-missionaria-brasileira-9942435
Acesso: 17/09/13
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