Por Wilhelmus à Brakel
É comum ouvirmos a afirmação que o
significado das palavras hebraica e grega traduzidas como “amém” é “que
assim seja”. Ouvimos, por exemplo, que devemos finalizar nossas orações
com um convicto “amém”, a fim de expressar nosso forte e sincero desejo
de que Deus atenda nossas petições. E, de fato, a palavra pode ser
entendida dessa forma. Edward Robinson diz que a palavra aparece “usualmente no final de uma oração, onde serve para confirmar as palavras que precedem” (Léxico Grego do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 46).
Isso pode ser visto, por exemplo, em Neemias 5.13: “Também
sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de
seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e
despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o SENHOR; e
o povo fez segundo a sua promessa” (cf.
Deuteronômio 27.15-26; 1Reis 1.36; 1Coríntios 14.16).
Não é incorreto
afirmar que dizer “amém” é uma expressão de desejo pela consecução
daquilo que é pedido ou uma confirmação do que foi afirmado.Entretanto, a
palavra “amém” possui um significado mais solene. O estudiosoHans Bietenhard afirma: “Através do ‘amém’, aquilo que foi falado é afirmado como certo, positivo, válido e obrigatório” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.
Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 110).
Trata-se, portanto, de uma
afirmação de veracidade. Dizer “amém” é jurar que aquilo que foi
afirmado na oração é expressão da verdade. Nesse sentido, quando
suplicamos algo a Deus e dizemos “amém”, estamos expressando diante do
Senhor que o nosso desejo é sincero e verdadeiro. Quando louvamos a Deus
e finalizamos com “amém” estamos afirmando diante d’Aquele que sonda o
nosso coração, que verdadeiramente o valorizamos e o consideramos como
supremamente valioso.
Esse significado pode ser visto, por exemplo, em Isaías 65.16: “de
sorte que aquele que se abençoar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que se
abençoará; e aquele que jurar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que
jurará”. A palavra hebraica traduzida pela Almeida Revista e Atualizada como “da verdade” é ‘amên. Literalmente, o texto diz: “aquele
que se abençoar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que se abençoará; e
aquele que jurar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que jurará”.
A ideia é
que toda bênção e todo juramento terão a Deus como sua testemunha,
Aquele que é a própria verdade, devendo, assim, serem feitos segundo a
verdade e por coisas lícitas. Em Apocalipse 3.14, Jesus se identifica
para o anjo da igreja de Laodiceia da seguinte forma: “Ao anjo da
igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o AMÉM, a testemunha fiel e
verdadeira, o princípio da criação de Deus”. Ao identificar-se como
o “Amém”, Jesus está afirmando que o diagnóstico que ele apresentará a
seguir é a mais pura expressão da verdade.
Tudo o que ele tem a dizer é
verdadeiro e, portanto, digno de crédito e de submissão da parte
daqueles que ouvem. Gregory K. Beale diz que, “as três
descrições ‘o Amém, a testemunha fiel e verdadeira’ não são distintas,
mas geralmente se sobrepõem para sublinhar a ideia da fidelidade de
Jesus ao testemunhar diante de seu Pai durante seu ministério terreno e
sua continuidade como tal testemunha” (The Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999. p. 296).
Simon Kistemaker, outro estudioso do Novo Testamento diz que, “o ‘Amém’ comunica a ideia daquilo que é verdadeiro, solidamente estabelecido e fidedigno”. (Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 225).
De igual modo, quando desejava expressar de forma mais contundente a
veracidade do seu ensinamento e como ele deveria ser levado a sério por
seus discípulos, Jesus introduzia seus ditos no Evangelho de João com um
duplo “amém”, que na nossa tradução aparece como “em verdade, em
verdade vos digo”: “E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo
que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o
Filho do Homem” (1.51; cf. 3.3,5,11; 5.19,24,25; 6.26,32,47,53;
8.34,51,58; 10.1,7; 12.24; 13.16,20,21,38; 14.12; 16.20,23; 21.18).
Todo
o seu testemunho é verdadeiro. Nele não há engano. Nas suas declarações
não existem mentiras. Ele é a verdade e tudo o que Jesus afirma é
verdadeiro.Isto posto, devemos compreender que quando fazemos nossas
orações a Deus, louvando-o, bendizendo-o, fazendo súplicas e
intercessões, e respondemos com o “amém”, estamos dizendo ao Deus da
Verdade, ao Deus do Amém, que nossos desejos são sinceros, que nosso
coração está tomado de santas afeições por suas perfeições, majestade e
glória.
Quando oramos e concluímos com o “amém”, dizemos ao Deus que
sonda os nossos corações que tudo o que expressamos é verdadeiro. Por
esta razão, devemos levar muito a sério o dever da oração. Devemos nos
aproximar de Deus sabendo que ele não vê como vê o homem. Ele vê o
coração. Ele sabe quando nossos desejos estão direcionados para outras
coisas. Ele conhece a insinceridade dos nossos corações.
Quando não
somos sinceros ou quando somos indiferentes em nossas orações, o “amém” é
uma mentira dita ao Deus que tudo sabe. Por isso, que ele nos guarde de
toda mentira e nos preserve no caminho da verdade, para que nossas
orações sejam, de fato e de verdade, nas palavras de Wilhelmus à Brakel, “a
expressão de santos desejos a Deus, em nome de Cristo, que, por meio da
operação do Espírito Santo, procede de um coração regenerado, junto com
o pedido do cumprimento desses desejos”.
Fonte: The Christian’s Reasonable Service. Vol. 3. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 1997. p. 446. Via: Cristão Reformado | Bereianos. Acesso: 30/08/13
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