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Religião e política se discutem!





Magali Cunha



Vamos à pergunta que não quer calar: qual é o poder de influência dos evangélicos no processo eleitoral? Esta questão já vinha sendo colocada há alguns anos e agora se reveste de mais significado. Pela primeira vez, dois candidatos à Presidência são declaradamente evangélicos. 

Everaldo Dias é aquele que mais investe nessa identidade: tem o título de “pastor” no nome de urna e defende princípios caros a uma parcela do segmento. A ex-senadora Marina Silva não baseia sua plataforma no fato de ser evangélica, mas não deixa de trazer à tona esta identificação.


Ademais, um levantamento indica 327 candidatos apresentados como evangélicos para todos os cargos disputados. É um aumento de 12,5% desse perfil em relação às eleições de 2010. Deste grupo, 273 são intitulados “pastor/a”, “missionário/a”, “bispo/a” ou “apóstolo”. 

Essa crescente presença e influência de evangélicos no espaço político chama realmente a atenção. O grupo tem hoje 73 parlamentares no Congresso (três senadores e 70 deputados), uma bancada que forma o “terceiro” partido da Câmara dos Deputados, embora não haja homogeneidade política. 

Estudos mostram que muitos desses números refletem uma tendência à aceitação da prática de voto de cabresto, com líderes religiosos fazendo as vezes dos clássicos coronéis da política brasileira. Isso coloca mais lenha no calor da pergunta que não quer calar.


Com base nesses números, não é difícil afirmar que há uma força evangélica. Não é surpresa que candidatos e marqueteiros tenham detectado a tendência, e a prática de “pedir a bênção” a líderes religiosos seja recorrente a cada eleição, bem como que esses candidatos e seus partidos se submetam a pressões do segmento por compromissos com a moralidade religiosa.

Isso ficou nítido na campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 e, neste ano, na campanha de Marina Silva, que mudou partes da sua plataforma de governo, sobre direitos reprodutivos e LGBT, poucas horas depois de apresentá-la ao público.

Mas essa reflexão tem outros vieses. 

O ponto de partida é considerar que a presença de grupos religiosos na política não pode ser vista como uma ameaça à democracia nem à laicidade do Estado. Ela reflete a dinâmica da cultura brasileira, em que as religiões têm importante papel na ordenação e no sentido da vida. 

A presença católico-romana se faz na política há 500 anos, e não gera fortes questionamentos.


Portanto, a presença dos evangélicos na política deve ser vista como indício do próprio avanço da democracia (com ambiguidades, é claro). A possibilidade do debate e de expressão das diferentes vozes é que precisa ser garantida neste contexto democrático, e é aqui que o lugar das mídias se reveste de importância. 

Dado o contexto de força dos evangélicos, muitos líderes se imaginam com poder político e eleitoral e falam em nome do segmento. Fica-se com um só discurso, neste caso o conservador. É urgente superar a apresentação dos evangélicos como um grupo homogêneo, rechaçando tendências unificantes de um segmento mais do que plural.


Fato é que neste processo está a fé, a crença, sonhos e esperanças de muita gente que acredita haver um Deus no meio de tudo isto. Por isso religião e política devem ser discutidas, sim, para, por exemplo, monitorar e denunciar os casos de abuso da fé dos membros das igrejas por meio de retórica do terror, de deturpação de informação. 

Como a divulgação da falsa ideia de políticas públicas implementadas para “acabar com a família” ou de que o acidente que matou Eduardo Campos foi ação de Deus para alçar uma evangélica à Presidência. Urge o espaço a outras vozes; tornar nítidas e públicas as diferentes posturas e projetos deste segmento que também tem quem defenda a justiça e a paz.



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