Ainda vivendo resquícios da Idade Média (séc XVI), o cristianismo passou
por uma fase de caráter definitivo: a Reforma Protestante. Oficialmente
iniciada na Alemanha por Martinho Lutero, o movimento se caracterizava
pelo desejo de que falhas existentes na Igreja pudessem ser corrigidas e
foi ganhando adeptos inicialmente pela Europa e posteriormente alcançou
outros continentes.
A igreja evangélica desfruta nos dias atuais, muitos dos efeitos desse
movimento, porém em diversas denominações, a Reforma Protestante e seus
protagonistas já não mais lembrados com tanta frequência.
Em entrevista
exlcusiva ao Portal Guiame, o teólogo, escritor e atualmente diretor da
Editora Luz para o Caminho, Pr. Hernandes Dias Lopes falou sobre a atual
situação das Igreja em relação à sua história, o resgate de valores
hoje perdidos e até mesmo a necessidade de uma “Nova Reforma
Protestante”.
Confira a entrevista na íntegra:
Portal Guiame: A reforma
protestante aconteceu motivada pela necessidade de mudança visível para o
cristianismo no final da Idade Média. Em um artigo seu, você fala sobre
a necessidade de uma nova reforma na Igreja Protestante. Quais pontos
especificamente precisariam mais dessa reforma?
Hernandes Dias Lopes: Quando afirmamos que a Igreja Evangélica
Brasileira está precisando de uma nova reforma, não estamos dizendo que
precisamos de novos modelos de ação, como igreja celular. O que
afirmamos com toda veemência é que a igreja tem se desviado da sã
doutrina, ou seja, da doutrina apostólica e precisa retornar às suas
origens.
Uma nova reforma não é busca de novidades estranhas e forâneas
às Escrituras, mas uma volta às Escrituras.
Nossos púlpitos têm pregado
prosperidade no lugar de arrependimento; têm pregado curas e milagres em
lugar de novo nascimento; têm pregado psicologia de auto-ajuda, em
lugar de ajuda do alto; têm pregado um antropocentrismo idolátrico, em
vez de pregar a soberania de Deus, a centralidade de Cristo e o poder do
Espírito Santo.
A igreja evangélica brasileira precisa de um retorno
aos solas da Reforma: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus
Christus e Soli Deo Gloria.
Guiame: O sincretismo religioso tem se feito cada vez mais presente nas
igrejas – até mesmo nas evangélicas – atraindo cada vez mais pessoas e
confundindo-as quanto ao verdadeiro evangelho. Como é possível, hoje,
combater esta prática?
Hernandes Dias Lopes: Segmentos da igreja evangélica brasileira têm
aderido a práticas estranhas às Escrituras, caindo num verdadeiro
sincretismo religioso.
Muitos pregadores inescrupulosos, em busca de
resultados imediatos ou até mesmo de lucro, mudam a mensagem, e
acrescentam práticas místicas como água ungida sobre o rádio, rosa
ungida, cair no espírito, e coisas semelhantes, levando o povo a colocar
sua confiança em amuletos e coisas de nenhum valor aos olhos de Deus,
aliás coisas contrárias às Sagradas
Escrituras. Não temos o direito de
mudar a mensagem para agradar o povo. O papel da igreja é ser fiel a
Deus, ser íntegra na pregação da Palavra e viver em santidade de vida. O
misticismo atrai multidões, mas mantém essas multidões prisioneiras do
engano. Precisamos pregar Cristo e este crucificado. Precisamos pregar
sobre a centralidade da cruz. Precisamos anunciar a salvação pela graça,
mediante a fé.
Guiame: Grandes nomes que participaram da reforma protestante, como
Martinho Lutero, João Calvino e outros têm sido, muitas vezes,
esquecidos pelas igrejas evangélicas da atualidade. É possível fazer a
menção a esses nomes sem que isso possa parecer idolatria ou
simplesmente algum tipo de nostalgia?
Hernandes Dias Lopes: A nossa falta de memória nos leva a um presente
confuso e a um futuro nebuloso. Quando voltamos a esses instrumentos
levantados por Deus no tempo da Reforma não é para enaltecê-los, mas
para relembrar as verdades benditas do evangelho que eles resgataram.
Qualquer forma de idolatria é pecado. Qualquer exaltação humana na
igreja está fora de propósito. Deus não divide sua glória com ninguém.
Os reformadores jamais chamaram a atenção para si mesmos. Jamais
buscaram o pedestal.
Eles anunciavam Cristo. Eles proclamavam o
evangelho. Deus abomina o culto à personalidade. Precisamos imitar os
reformadores e voltar ao antigo evangelho, o evangelho da graça!
Guiame: Em seu artigo sobre o assunto você diz “A Reforma não foi um
desvio do cristianismo primitivo, mas uma volta a ele”. Em que ponto
você acha que perdeu-se o foco, desde aquele tempo até os dias atuais?
Hernandes Dias Lopes: Penso que alguns segmentos da igreja contemporânea
perdeu o foco quando abraçou o liberalismo teológico de um lado e o
misticismo por outro.
Ambas as vertentes relativizam a Palavra de Deus.
Uma retira da Bíblia o que lá está, a outra, acrescenta o que nela não
está. O liberalismo nega o sobrenatural. O misticismo acrescenta um
falso sobrenatural.
O liberalismo tem matado igrejas em todo o mundo.
Não temos sequer um exemplo de uma igreja liberal que tenha
experimentado um reavivamento. Onde a Palavra de Deus não é considerada
como inerrante, infalível e suficiente não há evangelho para ser
pregado.
Por outro lado, onde o evangelho é substituído por práticas
místicas e sincréticas não é o evangelho genuíno que se anuncia. O
sincretismo místico atrai multidões, mas sonega-lhes a verdade. Há
igrejas cheias de pessoas vazias de Deus.
O Senhor Jesus não precisa de
admiradores. Ele quer discípulos. Estou certo de que precisamos de uma
volta às Escrituras, uma volta à santidade, uma volta ao cristianismo
bíblico, apostólico.
http://www.guiame.com.br/noticias/gospel/mundo-cristao/hernandes-dias-lopes-a-igreja-tem-se-desviado-da-sa-doutrina.html
Acesso: 04/11/12
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