Erros de grafia reprovam até 40% de universitários candidatos a
vagas de estágio. Usar o dicionário, ler e fazer cursos pela internet
ajudam a melhorar desempenho
Da redação
Os brasileiros se acostumaram a ver estampadas em ruas de todo o País placas com berrantes erros ortográficos. De tão comuns, esses erros espalhados pela paisagem de quase todas as cidades já viraram livro e objeto de lei que prevê multa a quem mantiver expostos esses desvios da norma culta. Mas não é só entre trabalhadores de baixa qualificação que o português tem sido maltratado.
Uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube)
apontou que erros ortográficos em português são o motivo de reprovação
de pelo menos 40% dos universitários em processos seletivos para
estágio. Para os especialistas, os candidatos têm se preocupado cada vez
mais em incrementar o currículo com cursos de formação complementar,
informática, viagens ao exterior e outros idiomas, deixando de lado o
básico.
"Hoje os estudantes procuram o domínio
do inglês, do espanhol e se esquecem da primeira língua. Mas o português
é o fator decisivo", explica Aline Barroso, supervisora de recrutamento
e revisão do Nube.
O
estudo pesquisou ditados aplicados a candidatos a estágios em que os
universitários precisavam escrever 30 palavras e só podiam errar seis.
Em alguns casos, as faltas passam de 20. "Não são palavras esdrúxulas.
São termos usados no dia a dia da faculdade ou que fazem parte da rotina
do mercado de trabalho que eles pretendem adentrar, como prospecção, no
caso dos publicitários", explica Aline.
Para a entidade, a falta de
leitura é a principal razão para tantos erros. Além da adoção desse
hábito, a entidade recomenda a busca por cursos on-line para suprir as
carências.
De modo geral,
o brasileiro lê pouco. Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil,
50% da população não leu sequer parte de um livro nos últimos 3 meses.
"Para escrever
bem, é preciso ler bem e bastante. E para escrever, é preciso pensar",
declara o jornalista José Eduardo Camargo, autor do livro "O Brasil das
Placas", que registrou fotos de placas com erros de português em várias
cidades do País. "Os erros ortográficos não falam nada sobre a
escolaridade de quem escreveu.
Mas, para a criança, é fundamental
entender que a norma culta é importante porque estabelece um padrão. Mas
o erro de hoje pode não ser o erro de amanhã", afirma. "Mas também não
podemos esconder o sol com a peneira. O Brasil tem um défice educacional
muito grande."
Para o
linguista e professor da Universidade de Brasília Marcos Bagno, mais do
que a falta de leitura, erros na hora de ensinar influenciam os erros na
hora de escrever. "A ortografia do português é muito mais fácil do que a
do inglês ou do francês.
Mas o ensino de língua no Brasil ainda é muito
tradicional e não se concentra em leitura e escrita. Em vez de
incentivar o letramento, se concentra em nomenclaturas, essa coisa
‘gramatiqueira’, que já se provou não servir para nada."
O professor
ainda rechaça as críticas feitas comumente à linguagem usada na internet
e as afirmações de que ela aumenta a dificuldade em assimilar a
ortografia oficial: "Não vejo nenhum mal na questão da internet. Acho
que é perfeitamente possível o convívio da regra com as novas
tecnologias. A questão é ensinar e aprender na escola que há um lugar
para cada coisa".
Fonte: Folha Universal 29/04/12
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