Fui assistir ao filme "A Rede Social", sobre a criação do Facebook, que levou prêmios de um grupo de prestígio (o Conselho Nacional de Críticos de Cinema, um grupo americano de profissionais e observadores do cinema, deu o prêmio de melhor diretor a David Fincher, criador do filme, o de melhor ator para Jesse Eisenberg, que representa Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook; Aaron Sorkin foi premiado pelo melhor roteiro adaptado), na primeira premiação importante da temporada em Hollywood.
Consegui ir à primeira sessão do cinema mais próximo. Assim a sala não estava tão lotada. Claro, a maior parte era formada por adolescentes empolgados e inquietos, que faziam seus comentários tranquilamente, em alto e bom som, durante o filme. Mas, achei muito interessante que, ao sair da sala no final do filme, vi um casal de aposentados à minha frente, e acabei ouvindo o comentário da senhora, que aparentemente, deveria ter por volta de 65 anos: "Não entendi nada do filme, desde o começo", ao que o marido respondeu: "Eu também não, é tudo muito rápido".
Ainda estou longe dos 60, mas, confesso que demorei um pouco até entrar no ritmo. Diálogos acelerados exigem sua atenção o tempo todo. Você sai quase cansado do filme.
Percebe-se, contudo, que embora entre as gerações possa haver uma mudança considerável em termos de velocidade, algumas coisas permanecem, essencialmente. Por exemplo, nossa necessidade de ser reconhecidos pelo fazemos, mais do que somos. Ou, o quanto o amor nos impulsiona, assim como a rejeição também. Ah, essa dor da rejeição que nos habita!
Não é estranha também a solidão, as frustrações que marcam a todos nós, e que alguns até sentem-se perseguidos por elas. Ou mesmo a vingança que mora em nós, até sermos regenerados em Cristo Jesus, ou não. Alguns talvez discordem, afirmando não serem vingativos. Será? Até onde fomos testados? O belo filme argentino, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro – "O Segredo de Seus Olhos", aborda e nos ajuda também e muito a refletir a respeito.
No filme "A Rede Social" quase tudo é de fato rápido: linguagem, cenas, diálogos, raciocínio, carreira ascendente meteórica; mas algo é lento: um sentimento ruim, uma mágoa, aparentemente pequena, que vai corroendo. Uma sensação de ser desprezado, de estar cercado por exploradores que cedo ou tarde irão machucá-lo, daí a importância de você estar por cima, deter o poder, conquistar e permanecer conquistando.
O que percebemos do clima ao nosso redor? O que ele nos comunica? Quais são os nossos desejos mais profundos? Nossas conquistas nos têm levado para onde?
Há gente que se considera calejada nessa selva; outros muito espertos; só poucos percebem que são feridos tentando revidar ou se proteger. Talvez uma pergunta que podemos refletir é o que se faz com o que carregamos por dentro?
Ao ler sobre a história de Jesus, seus encontros e suas falas, percebo que, entre outras coisas, ele veio nos ajudar a olhar para dentro de nós, nos desafia a arrancar máscaras, a abandonarmos ilusões, a pensarmos melhor sobre quem somos e quais nossas reais motivações. Não conseguimos escapar de refletir a respeito de nossas defesas, resistências, e do medo de baixarmos nossa guarda.
O encontro com Jesus proporciona mudança de ritmo. Somos provocados a sair do comodismo, a rever nossos relacionamentos e formas de relações. Faz-nos, inclusive, repensar nossa vocação.
Jesus bem sabe lidar com gente assustada, frustrada e/ou confusa. Lembro-me do encontro de Jesus com Pedro. Como pescador, ele vinha de uma noite inteira de esforços em vão, onde não havia pegado nada. Naquele instante, digamos, era um pescador sem pegada.
Após orientações de Jesus, ele e os seus se veem bem-sucedidos. O relato diz que "pegaram tal quantidade de peixes que as redes começaram a rasgar-se" (Lc 5.6). Após tal experiência Pedro fica perplexo, e diz: "Afasta-se de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!"(Lc 5.8).
Pedro quer afastar-se, Jesus o convida para aproximação. Jesus surpreendeu, como sempre, e fez uma declaração ousada e carregada de novidade: "Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens" (Lc 5.10). Com isso faz Pedro repensar o que fazia e o que faria, após esse encontro. Jesus faz Pedro repensar sua rede. Talvez ali esteja a pré-história de uma genuína rede social.
Não resisto ao trocadilho sugestivo para o título de uma biografia "pedrina": de pescador sem pegada a pescador pescado – a história de um pregador com pegada.
Mesmo em nosso contexto acelerado, e talvez até com maior ênfase, cabe o confronto que Jesus ainda hoje nos promove: no mar da vida, seguir a Cristo, é conhecer nova pescaria.
Por Taís Machado
Via: www.guiame.com.br
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