Por Hermes Fernandes 3 de junho 2010
Hoje acontece mais uma edição do megaevento conhecido como “Marcha pra Jesus”. Milhões de pessoas saem às ruas e avenidas da maior cidade da América Latina para… para o quê mesmo? Ah sim… para dar uma demonstração da força do povo evangélico.
Entre trios elétricos e gritos de guerra, lá vai o rebanho, já devidamente tosqueado, como aqueles soldadinhos da propaganda das baterias duracell.
Eu estava aqui nos EUA em 1991, quando li pela primeira vez uma matéria sobre a “March For Jesus” realizada nas ruas de Londres. Não havia trio elétrico, nem palanque com políticos ávidos por votos. Eram apenas cristãos com violões e outros instrumentos acústicos, dando testemunho de sua fé. Confesso que me identifiquei imediatamente. Parecia coisa de hippie. rs
Mas quem diria que quando o movimento fosse exportado para o Brasil, alcançaria o status de mega? Para rivalizar com ele, somente o Dia da Decisão da IURD e a Parada Gay.
Estou curioso pra saber quem vai subir ao palanque. Será Dilma ou Serra? E quanto ao candidato ao governo do Estado de SP? Quem será o “ungido do Senhor” da vez? Quem será o novo “José do Egito”?
Enquanto políticos desfilam nos palanques e trios, os soldadinhos de Gezuis balançam a cabeça, consentindo com esta vergonha.
Alguns cristãos conscientes e subversivos resolveram promover manifestos silenciosos durante a marcha. Preocupo-me com sua integridade física. No mínimo, serão desmoralizados por quem estiver em posse do microfone. Serão chamados de endemoninhados, hereges, filhos do capeta, e afins. Espero que logrem despertar a consciência de alguns.
Nossa igreja preferiu tomar outro caminho. Em vez de comparecer à marcha, seja em apoio ou em protesto, decidimos promover uma marcha particular. Sem estardalhaço, discretamente, nosso povo foi convidado a comparecer na Hemorio para participar de nossa campanha de doação de sangue (Dia dos Braços Estendidos). Não são muitas as pessoas que comparecem. Em uma das edições, chegamos a levar cerca de 100 pessoas. Já imaginou se aquelas ‘milhões’ de pessoas que marcham pelas ruas das metrópoles brasileiras, resolvessem estender os braços para doar sangue? A Hemorio teria estoque para muitos anos. E se fossem mobilizadas para socorrer as vítimas da injustiça social? Que estrago não fariam! Se o tema dessa “marcha” fosse a ética, contra a corrupção na política, ou mesmo em favor da justiça? Quantos compareceriam?
Pelo jeito, o que atrai realmente as pessoas é o oba-oba. Elas vão para assistir os astros da música gospel, ou simplesmente para estravasar.
Não vejo qualquer problema com a marcha em si. O que me incomoda é a motivação dos organizadores, e a motivação de quem participa. Se em vez de terem “cabeça de papel”, os soldados que lá marchassem demonstrassem ter cabeça pensante, tudo seria diferente.
P.S.:
O site da igreja que promove o evento publicou a seguinte reportagem acerca do início da marcha de hoje:
O trio elétrico com o Apóstolo Estevam Hernandes e Bispa Sônia parou sobre o Rio Tietê para mais um momento de oração. “Vamos orar sobre estas águas para que Deus acabe com a miséria desta cidade e mude a história desta nação. Vamos profetizar e denunciar todo o vício e a miséria”, declarou o apóstolo. Durante a oração, ele lembrou que Jesus foi levantado para destruir as obras do diabo. Ele orou: “Tú és o Senhor de toda a bênção e dos milagres. Declaramos que depois dessa marcha, este país não será mais o mesmo. Que este poder e unção entre em cada casa e que esta terra, o Brasil, seja bendito! A Ti, Jesus, seja a glória, o poder, o domínio e a majestade. Amém!”
Finalmente! Agora tudo vai mudar! O rio Tietê ficou limpo de um minuto para o outro, representando a transformação que o Brasil vai experimentar de hoje para amanhã. Só mesmo tendo cabeça de papel para acreditar nisso. O que vai mudar o Brasil não são palavras proféticas como essa, mas o trabalho honesto e perseverante de gente disposta a fazer a diferença em sua própria esfera de atuação.
Entre tietes e tietês, parece que a igreja brasileira se perdeu no meio de sua marcha histórica.
Entre trios elétricos e gritos de guerra, lá vai o rebanho, já devidamente tosqueado, como aqueles soldadinhos da propaganda das baterias duracell.
Eu estava aqui nos EUA em 1991, quando li pela primeira vez uma matéria sobre a “March For Jesus” realizada nas ruas de Londres. Não havia trio elétrico, nem palanque com políticos ávidos por votos. Eram apenas cristãos com violões e outros instrumentos acústicos, dando testemunho de sua fé. Confesso que me identifiquei imediatamente. Parecia coisa de hippie. rs
Mas quem diria que quando o movimento fosse exportado para o Brasil, alcançaria o status de mega? Para rivalizar com ele, somente o Dia da Decisão da IURD e a Parada Gay.
Estou curioso pra saber quem vai subir ao palanque. Será Dilma ou Serra? E quanto ao candidato ao governo do Estado de SP? Quem será o “ungido do Senhor” da vez? Quem será o novo “José do Egito”?
Enquanto políticos desfilam nos palanques e trios, os soldadinhos de Gezuis balançam a cabeça, consentindo com esta vergonha.
Alguns cristãos conscientes e subversivos resolveram promover manifestos silenciosos durante a marcha. Preocupo-me com sua integridade física. No mínimo, serão desmoralizados por quem estiver em posse do microfone. Serão chamados de endemoninhados, hereges, filhos do capeta, e afins. Espero que logrem despertar a consciência de alguns.
Nossa igreja preferiu tomar outro caminho. Em vez de comparecer à marcha, seja em apoio ou em protesto, decidimos promover uma marcha particular. Sem estardalhaço, discretamente, nosso povo foi convidado a comparecer na Hemorio para participar de nossa campanha de doação de sangue (Dia dos Braços Estendidos). Não são muitas as pessoas que comparecem. Em uma das edições, chegamos a levar cerca de 100 pessoas. Já imaginou se aquelas ‘milhões’ de pessoas que marcham pelas ruas das metrópoles brasileiras, resolvessem estender os braços para doar sangue? A Hemorio teria estoque para muitos anos. E se fossem mobilizadas para socorrer as vítimas da injustiça social? Que estrago não fariam! Se o tema dessa “marcha” fosse a ética, contra a corrupção na política, ou mesmo em favor da justiça? Quantos compareceriam?
Pelo jeito, o que atrai realmente as pessoas é o oba-oba. Elas vão para assistir os astros da música gospel, ou simplesmente para estravasar.
Não vejo qualquer problema com a marcha em si. O que me incomoda é a motivação dos organizadores, e a motivação de quem participa. Se em vez de terem “cabeça de papel”, os soldados que lá marchassem demonstrassem ter cabeça pensante, tudo seria diferente.
P.S.:
O site da igreja que promove o evento publicou a seguinte reportagem acerca do início da marcha de hoje:
O trio elétrico com o Apóstolo Estevam Hernandes e Bispa Sônia parou sobre o Rio Tietê para mais um momento de oração. “Vamos orar sobre estas águas para que Deus acabe com a miséria desta cidade e mude a história desta nação. Vamos profetizar e denunciar todo o vício e a miséria”, declarou o apóstolo. Durante a oração, ele lembrou que Jesus foi levantado para destruir as obras do diabo. Ele orou: “Tú és o Senhor de toda a bênção e dos milagres. Declaramos que depois dessa marcha, este país não será mais o mesmo. Que este poder e unção entre em cada casa e que esta terra, o Brasil, seja bendito! A Ti, Jesus, seja a glória, o poder, o domínio e a majestade. Amém!”
Finalmente! Agora tudo vai mudar! O rio Tietê ficou limpo de um minuto para o outro, representando a transformação que o Brasil vai experimentar de hoje para amanhã. Só mesmo tendo cabeça de papel para acreditar nisso. O que vai mudar o Brasil não são palavras proféticas como essa, mas o trabalho honesto e perseverante de gente disposta a fazer a diferença em sua própria esfera de atuação.
Entre tietes e tietês, parece que a igreja brasileira se perdeu no meio de sua marcha histórica.
Fonte: Blog do Hermes Fernandes
1 comentários:
Esse movimento é mais pra diversão, acredito.
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